Deixamos-lhe com uma notícia cuja leitura é aconselhada pelo enfermeiro especialista João Meireles, por retratar fielmente a situação atual. Lançada pelo Jornal Público, esta notícia relata a situação vivida na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital São João, no Porto, em finais de Abril.
"O São João, no Porto, converteu-se num hospital “covid”. Há doentes em estado muito crítico nos cuidados intensivos, a lutar pela vida, mas a maior parte tem apenas sintomas ligeiros e está “internada” em casa. Os médicos acreditam que o pior já terá passado.
Há um doente que luta pela vida há um mês no Hospital de São João. Está ligado a uma máquina que substitui os pulmões que o novo coronavírus quase destruiu. Partilha uma sala com mais uma dezena de homens e mulheres na unidade de cuidados intensivos do piso seis do gigantesco hospital do Porto. O ambiente parece saído de um filme: a maior parte dos pacientes está em coma induzido mas alguns estão acordados, de olhos bem abertos. À sua volta, dezenas de médicos, de enfermeiros, de auxiliares, equipados com batas, viseiras, luvas, toucas, afadigam-se 24 sobre 24 horas. Colocam cateteres, administram sedativos, analgésicos, relaxantes musculares, antibióticos, soros, vigiam sinais vitais nos monitores, trocam fraldas, limpam tudo com persistência.
São doentes que não se encaixam no perfil dos grupos de maior risco de vida. O mais novo tem apenas 33 anos, o mais velho 64. Aparentemente, nenhum sofria de patologias prévias. Não respondem à ventilação invasiva. Estão, à excepção de um, ligados a um aparelho que aspira o sangue e o oxigena antes de o devolver ao organismo. O ECMO (sigla em inglês) é a última esperança para estes homens e mulheres cujos pulmões falharam. Há quem chame salva-vidas ao pequeno aparelho de onde saem e entram largos tubos repletos de sangue. Substitui os pulmões, dá-lhes tempo para recuperar das graves lesões provocadas pelo novo coronavírus. E é exactamente de tempo que precisam. Uma mulher de 47 anos teve alta entretanto e recupera numa enfermaria, e um homem de 49 anos acaba de ser “extubado”, palavra que na gíria dos cuidados intensivos é habitualmente sinónimo de vitória.
“Quando os ventiladores não funcionam, colocamos o ECMO. O pulmão é um órgão com enorme capacidade de recuperação”, descreve Roberto Roncon, o médico que coordena o centro de referência desta técnica e que se habituou a ver homens e mulheres que pareciam condenados à morte a sobreviverem quase sem sequelas.
“Estes doentes são um desafio. Nós queremos salvar toda a gente”, declara a enfermeira-chefe, Patrícia Pais, 38 anos de idade, 15 de experiência em cuidados intensivos. “Alguns estão conscientes, conseguem comer sozinhos e até falam por videochamada com os familiares. O mais duro é não poderem estar acompanhados. É injusto.” A emoção transparece nos olhos cuidadosamente maquilhados de Patrícia. É a única vaidade a que se pode dar ao luxo — não pode usar adornos, não pode ter as unhas pintadas."
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Fonte:
https://www.publico.pt/2020/04/20/sociedade/reportagem/ha-maquina-substitui-pulmoes-dez-doentes-s-joao-queremos-salvar-gente-1912921