Este artigo fez parte do Número 10 da Bwizer Magazine – pode vê-la na íntegra aqui.
Os Mitos da Fisioterapia desta edição vão ser direcionados para o exercício.
Normalmente olhamos para a prescrição de exercício na Fisioterapia como sendo algo que é corretivo (um pouco como fazíamos na Terapia Manual, assunto que já foi de certa forma desmitificado na primeira edição da rubrica Mitos da Fisioterapia). A mudança de paradigma de uma abordagem estruturalista para uma perspetiva biopsicossocial deve ser acompanhada por toda a nossa intervenção, e isto inclui a prescrição de exercício enquanto profissionais de saúde.
Vamos olhar para o que é a nossa prescrição de exercício para uma pessoa com dor em contexto músculo-esquelético, como o temos parametrizado e se temos alcançado o resultado pretendido – e, quando não o fazemos, veremos o porquê.
Tentando não ser, paradoxalmente, demasiado simplista, ou complexificar um assunto que implicaria uma análise mais profunda, interessa só relembrar que a dor não tem uma única causa específica – enquanto fenómeno multifatorial, é altamente complexo e impossível de lhe atribuir uma causa específica, embora saibamos que há, de facto, condições que aumentam a predisposição da pessoa à dor, normalmente mais relacionados com questões orgânicas, comportamentais ou contextuais do que propriamente com fatores estruturais ou anatómicos (à exceção, claro, de um caso de lesão). Aliás, a dor é um fenómeno de tal maneira multifatorial que, como diria Kieran O’Sullivan num podcast dado ao British Journal of Sports Medicine, “é impossível e contraproducente tentar preveni-la”(1) apesar de aparentemente conseguirmos reduzir em parte o seu aparecimento… com exercício(2).
O objetivo desta reflexão não é aprofundar o nosso conhecimento da dor, mas sim perceber porque é que afinal o exercício é, pelo menos na teoria, tão recomendado para pessoas que manifestam uma sintomatologia com dor e o motivo pelo qual se torna eficaz no seu tratamento. Em última análise, o propósito é claro: desafiar, de forma controversa, os princípios estruturais e biomecânicos pelos quais prescrevemos exercício.
O exercício resulta? E se sim, porquê?
Que o exercício é fundamental numa série de condições músculo-esqueléticas concretas, como na reabilitação de lesões agudas ou em pós-cirúrgicos, está absolutamente comprovado(3,4). Também já sabemos que o exercício é uma das ferramentas a utilizar no nosso arsenal terapêutico – discutivelmente, a principal – para lidar com pessoas com dor(5). Mas será que a prescrição de exercício terá de seguir o mesmo princípio em ambos os casos?
Frequentemente, enquanto fisioterapeutas, podemos ainda cair na tentação de observar os nossos pacientes apenas de forma estrutural, atribuindo à dor causas altamente específicas. É imensamente frequente estabelecer como causa para a dor fatores como défices de amplitude, padrão de movimento, falta de força… O que, diga-se, acaba por ser compreensível uma vez que é o tipo de parâmetro que estamos formatados para avaliar e valorizar. Depois de observarmos, na nossa avaliação, este tipo de achados clínicos, criamos uma hipótese na qual estabelecemos objetivos e prescrevemos estratégias assentes com base nesses pressupostos. Por fim, verificamos uma melhoria clínica considerável, o que nos parece validar a hipótese e, consequentemente, o raciocínio utilizado.
Para tornar isto mais intuitivo, vamos recorrer a exemplos. Os mais fáceis de transmitir, e aqueles onde existe mais literatura para reflexão, talvez sejam as condições músculo-esqueléticas de dores lombares e dores no ombro.
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CV: João Noura é Fisioterapeuta, pós-graduado em Fisioterapia Desportiva. Atualmente é o Coordenador da Unidade de Fisioterapia Desportiva e Performance na CMM/Peak e é Docente Assistente na ESS-Porto na Unidade Curricular de Ciências Morfológicas.
Fonte:
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