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Publicado a 09/06/2017

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Hugo Belchior

É mais fácil importar do que criar de raiz mas criar tem outro sabor | Por Hugo Belchior

Hugo Belchior

Manu Chao, na sua mítica canção “Me Gustas Tu” diz a certa altura “no todo lo que es oro brilla”, passagem a que aludi recentemente numa palestra que dei no México, fazendo uma analogia com o conhecimento que se importa que, tantas vezes, parece ser ouro a brilhar.

Sendo eu português e alguém que, através da Bwizer México tenta, desde logo, exportar conhecimento para o México, poderá parecer pouco cauteloso alertar os meus putativos clientes de lá, para o facto de nem tudo o que chega do estrangeiro ser melhor do que o produto nacional. Talvez seja pouco cauteloso mas é no que acredito.

https://www.facebook.com/bwizermexico/

Quando iniciámos a Bwizer em 2008, ainda que muito fruste, o mercado de formação avançada para fisioterapeutas já existia em Portugal. Esse mercado, em larga medida, vivia de conhecimento importado; formadores estrangeiros que ocasionalmente vinham a Portugal para vender o seu conhecimento. O resto, estava na mão de algumas vacas sagradas nacionais, basicamente. Aliás, se reparar, uma parte muito significativa do mercado de formação ainda hoje é um mercado de importação. Porquê? Por três razões. Uma, razoável. Duas, menos. A razão válida é que há conhecimento estrangeiro que vale a pena importar e, quando assim é, nada a opor. Na Bwizer também o fazemos. Depois, temos uma razão de simplicidade operacional: para as empresas de formação é muitíssimo mais fácil tentar vender um curso já estruturado e com marca – que, tipicamente, só existe lá fora, do que lançar formadores novos e novos produtos formativos. Por fim, ainda que muito menos, ainda há, na cabeça de alguns, a ideia de que “bom é o que é estrangeiro”.

Talvez com pouca racionalidade empresarial, logo naquele começo da Bwizer, decidi que percorreríamos um caminho diferente: não só não viveríamos de conhecimento importado, como desenvolveríamos conhecimento português criando, pelo meio, oportunidades para novos formadores e, até, exportaríamos um dia conhecimento português.

O caminho não foi fácil mas creio que fez escola e, hoje, quase todas as empresas têm, em maior ou menor grau, formadores portugueses e, mais importante, já não chega “ser estrangeiro” para ser considerado bom. Isso revela maturidade do nosso mercado e, se para os mais novos, isso pode parecer algo muito natural, aqueles um pouco mais velhos não poderão deixar de concordar que tem sido um processo. Um processo nem sempre aplaudido ou facilitado mas, sem dúvida, um processo que empodera mais os nossos profissionais e de que me orgulho particularmente.

Ora, estando a Bwizer a dar alguns passos no México, seria profunda hipocrisia veicular uma mensagem diferente desta e, por isso, aquilo que durante 10 dias fui dizendo a centenas de estudantes de fisioterapia e fisioterapeutas mexicanos é que “no todo lo que es oro brilla” e que o compromisso da Bwizer México é replicar os princípios seguidos em Portugal: apostar em formadores locais. Não há outra forma de fazer crescer uma profissão e um corpo de saberes.

Há alguma exportação de conhecimento para o México através da Bwzer? Claro que sim, nomeadamente português. Contudo, isto tem que ser apenas um ponto de partida, sendo o objetivo o de apostar em formadores locais que, depois, o possam difundir massivamente.

Podemos ser patrióticos sem ser provincianos que é mesmo que dizer que podemos gostar do nosso país sem acharmos que somos melhores só porque sim e, aliás, tentando ajudá-lo, desde logo criando uma cultura de competição. Escrevo isto e lembro-me da reflexão de Fernando Pessoa justamente sobre provincianismo: “O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela — em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz.”.

Tento, carregado de limitações, contribuir para o desenvolvimento da nossa civilização. Exorto-o a fazer o mesmo.

 

Até breve,

Hugo Belchior

CV: Hugo Belchior é fisioterapeuta, no entanto cedo percebeu que área que verdadeiramente o fascinava e motivava era a Gestão. Atualmente, lidera dois projetos empresariais próprios e outros projetos ligados ao empreendedorismo e gestão.

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