Mal terminou a licenciatura, Sérgio Ferraz quis conhecer a Fisioterapia em Espanha e iniciou a sua carreira em Tenerife. Trabalhou com nomes de referência como o fisioterapeuta Michal Novotny e o tenista Thomas Berdych, e acredita que é importante amarmos o que fazemos para sermos melhores. Sérgio defende que ainda há muito a melhorar no setor da saúde, em Portugal, para que todos tenham acesso a um atendimento de qualidade. Leia a entrevista e saiba mais!
Conheça a história de Sérgio Ferraz, mais um caso de sucesso Bwizer.
1) Fale-nos um pouco de si: que idade tem? É casado? Tem filhos?
Olá, o meu nome é Sergio Ferraz e sou fisioterapeuta há já quase cinco anos. Mal terminei a licenciatura pensei logo em emigrar, para conhecer como se aplica a fisioterapia em Espanha, nomeadamente em Tenerife, onde faz calor todo o ano. Não sou casado nem tenho filhos, logo virão!
2) Quando era adolescente, que profissão gostaria de exercer no futuro?
Na adolescência eu já sabia que queria trabalhar na área da saúde, mais na área da enfermagem, seguindo as pisadas da minha mãe. Com ela também partilhava a paixão pelos animais e pela natureza, por isso engenharia agrária ou zootecnia também eram áreas que me chamavam a atenção.
3) Quais os trabalhos/experiências profissionais que mais o marcaram?
O trabalho em Tenerife, onde comecei, deixa saudades, principalmente porque os pacientes recorrem logo ao fisioterapeuta antes de ir ao médico e, portanto, era desafiante para mim. Após ter passado por duas clínicas tive a oportunidade de ir trabalhar com Michal Novotny, que tem a sua clínica inserida num SPA de um dos melhores hotéis de toda a Espanha, muito procurada por atletas profissionais.
4) O que o levou interessar-se pela fisioterapia?
Quando acompanhava o meu irmão, que tem esclerose múltipla, às suas sessões de fisioterapia, disse para mim mesmo: “é isto que eu quero, poder ajudar os outros a voltar rapidamente as suas vidas”. Foi nesse momento me apaixonei pela fisioterapia.
5) O que retirou da experiência de trabalhar com Thomas Berdych, um dos melhores tenistas do mundo?
Ainda estou a trabalhar com o Thomas e, sem dúvida, o nosso trabalho é reconhecido diariamente. Atuamos nas mobilizações matinais, aquecimentos antes dos jogos ou treinos, exercícios de relaxamento, ligaduras funcionais, enfim, uma completa rotina de estiramentos, exercícios de prevenção de lesões, massagem e a terapia manual que seja necessária para retirar todas as dores que possa referir.
E é uma grande oportunidade para ver como trabalham os fisioterapeutas do ATP world tour, saber, por exemplo, que técnicas aplicam em determinadas lesões os fisioterapeutas australianos, americanos, franceses, argentinos....
Este ano tivemos um bom arranque, já com dois títulos, e escrevo-vos de Miami, onde já estamos nos quartos-de-final, e onde tive o prazer de defrontar o Melhor tenista português, que também é meu grande amigo, o Grande João Sousa. Aproveito para dizer que nesse dia, enquanto tratava o Berdych, ele elogiou-o, disse que era uma boa promessa.
6) Quais os cursos que realizou na Bwizer? Têm utilidade na sua prática clínica?
Realizei os cursos de Fisioterapia Desportiva e Trigger Points. Serviram para reavivar a memória e saber mais sobre estas áreas que, para mim, são muito importantes. De facto, utilizo os conhecimentos que aprendi diariamente na minha prática clínica!
7) Como concilia a sua vida pessoal com a profissional?
Bastante fácil, quando amamos o que fazemos não custa mesmo nada, e vou a Portugal cerca de 6 vezes por ano para ver a família e os amigos.
8) Uma curiosidade sobre si que nada tenha a ver com a fisioterapia.
Adoro andar a cavalo e praticar snorkeling!
9) Quais suas expetativas para o setor da Saúde em Portugal perante as atuais condições económicas do País?
Esta é, sem dúvida, a pergunta mais difícil.
As minhas expetativas para o sector da saúde em Portugal não são as melhores dado o nível de desemprego e as dificuldades económicas dos cidadãos, famílias e empresas.
O investimento em saúde tem sofrido cortes que, na maioria dos casos, são cegos, sem critério e guiados por razões puramente economicistas. Não há um estudo do setor que fundamente esses cortes de forma a representarem um real decréscimo do desperdício, tratam-se de cortes aleatórios que só prejudicam o acesso das populações aos cuidados de saúde.
Por outro lado, mesmo que as medidas sejam acertadas, a falta de estudo torna-as praticamente incompreensíveis para a população que, assim tem mais dificuldade em aceitá-las. Além do mais, o poder político tem muita dificuldade em entender a despesa em saúde como um investimento, porque só recentemente começam a surgir em Portugal estudos que provam que há retorno real para o investimento feito em saúde.
Nem todos têm acesso à saúde em pé de igualdade. Aqueles que apenas dispõem do SNS como apoio têm de se sujeitar a demoras no atendimento e a intermináveis listas de espera.
São utentes que têm de se levantar de madrugada para conseguirem uma consulta ou utentes que têm de percorrer grandes distâncias para não faltar à consulta. Em contrapartida, os funcionários do estado (civis e militares) dispõem de subsistemas que lhe dão outras garantias, podendo optar pelo sector privado, colmatando assim as deficiências do SNS. Os cidadãos com condições económicas melhores optam, muitas vezes, por sistemas privados de seguros de saúde que também lhes facilitam o acesso aos cuidados.
Sendo assim, terá que haver uma mudança na mentalidade e atuação das autoridades responsáveis, para que as despesas em saúde sejam olhadas como um investimento e, ao mesmo tempo, poderem resolver as assimetrias acima referidas.
10) Na sua opinião, vale a pena emigrar? Para onde iria?
Penso que sim: ter o conhecimento, na prática, de como se trabalha la fora, para mim é outra realidade. Para onde iria… isso depende daquilo que cada um pretende, se for para ganhar dinheiro e usufruir de um bom clima diria Qatar ou Abu dabi.
11) Uma dica ou frase de inspiração para aqueles que gostariam de seguir os seus passos?
Numa outra entrevista referi que é importante amarmos aquilo que fazemos; se não é o caso, nunca é tarde para mudar. Nunca desistir, nem perder o interesse se querermos ser sempre melhores, pois até os melhores podem sempre ser melhores.
Toda a gente tem defeitos, mas penso que ser sincero, honesto e humilde me ajudou a abrir muitas portas.