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Publicado a 17/01/2019

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Raquel Brandão

Pilates kids & teens | Por Raquel Brandão (Bwizer Magazine)

Raquel Brandão

Este artigo fez parte da 5ª edição da Bwizer Magazine – pode vê-la na íntegra aqui.

 

O método de Pilates, nos últimos anos em Portugal, tem ganho muita popularidade, existindo uma elevada procura pela prática desta modalidade. Uma das áreas em que o Pilates começa a ganhar terreno é na população mais jovem, porque cada vez mais se verifica, entre crianças e adolescentes, problemas re­lacionados, quer com más posturas, quer com um desenvolvi­mento físico rápido, sendo este um problema de saúde pública grave e em crescimento.

Pilates é o método criado por Joseph Pilates, praticado há mais de 30 anos e que através de exercícios promove o ganho de força, flexibilidade, concentração, para além de outros benefí­cios para a saúde, pelo que é reconhecido, quer como ativida­de desportiva, quer como método de reabilitação. Este método baseia-se num conjunto de exercícios que têm como foco, o movimento controlado, a coordenação, o alongamento e a res­piração.

Joseph Pilates nunca pretendeu fazer do seu método um espa­ço para elites, antes pelo contrário, o seu maior sonho era que fosse praticado desde tenra idade, nas escolas, por todas as crianças, para que cedo obtivessem o conhecimento do próprio corpo, com o objetivo de se tornarem adultos fortes, flexíveis, livres de dores e desequilíbrios desnecessários, ficando mais preparados, saudáveis e com uma maior consciencialização do seu corpo.

Nos dias que correm é cada vez menos frequente encontrar crianças a brincar na rua, saltar muros ou simplesmente andar de bicicleta. Atualmente, em parte devido à nova era tecnoló­gica, as crianças são absorvidas por atividades que envolvem pouca ou nenhuma atividade física, promovendo más-posturas e sedentarismo. Outro fator que é associado ao desenvolvimen­to de problemas de saúde relaciona-se com o peso transportado nas mochilas pelas crianças em idade escolar. 

Com efeito, várias são as questões que se põem quando se aborda o tema Pilates para crianças. Qual o objetivo, como fun­ciona, quais as vantagens ou mesmo se é um método útil na infância.

Nos Estados Unidos, em 2006, foi criado dentro do Pilates uma nova vertente onde Fisioterapeutas e professores de educação física promoveram uma campanha para a divulgação e intro­dução do método nas escolas, com a finalidade de reduzir a incidência de dor lombar causada pelo peso excessivo das mo­chilas.

É possível encontrar na Medline, artigos que demonstram o im­pacto desta modalidade, reforçando a importância da sua im­plementação no currículo escolar. O estudo de Thessalia et al. pretendeu “determinar se o uso do método de Pilates poderia melhorar a postura de crianças em idade escolar, dada a im­portância do desenvolvimento nesta fase de crescimento mús­culoesquelético, em que o alinhamento da coluna é definido”. Os exercícios utilizados enfatizavam a dissociação segmentar mantendo a estabilidade da bacia em posição neutra, permitin­do às crianças desenvolverem um melhor controlo motor, bem como reconhecerem e corrigirem posturas inadequados. Tam­bém notaram que os exercícios de Pilates, ajudaram os partici­pantes a otimizar o seu sistema vestibular, visual e de equilíbrio, tendo verificado uma melhoria significativa na postura. A amos­tragem era constituída por 30 alunos, com 12 anos de idade, que foram avaliados pelo Portland State University evaluation form. Os resultados foram encorajadores, mostrando que cerca de 68,9% dos alunos avaliados revelaram uma melhoria signifi­cativa da sua postura, permitindo afirmar que os exercícios de Pilates contribuem para uma boa postura e equilíbrio.1 e 2

Baetta et al3, verificou a viabilidade da inclusão do método nas aulas, a fim de complementar os conteúdos propostos e propor­cionar aos alunos maiores benefícios, prazer e lazer nas aulas de Educação Física. Concluíram ser viável propor a inserção do método Pilates nas aulas, como uma sugestão de uma nova modalidade dentro das Práticas Corporais Alternativas, “escla­recendo que o que pretendemos com este artigo não édesen­volver somente o Pilates nas aulas, e sim atrelar o método às propostas de Educaçãoo Física já existentes, suprindo assim as carências desta disciplina”.

Strasse et al4 tiveram em consideração a quinta patologia mais comum em desenvolvimento na adolescência, a escoliose. Esta patologia surge nos adolescentes na faixa etária de 10 a 16 anos. O Pilates foi considerado como alternativa no tratamento conservador de indivíduos dignosticados com este desvio postural por meio da eletromiografia e da simetrografia. Realizado em 2015, com 22 adolescentes com escoliose de ambos os sexos, com idade entre os 12 e 18 anos; foram escolhidos indivíduos fisicamente ativos, sem experiência no método e que não tinham sido sujeitos a cirurgia corretiva. Neste estudo foram realizadas 24 sessões, 2 vezes por semana, de um programa específico com exercícios de Pilates. Após a aplicação deste protocolo, foram novamente submetidos às avaliações, tendo os resultados demonstrado que 9 adolescentes melhoraram o seu alinhamento postural. O estudo concluiu que os exercícios tiveram elevada importância e que poderiam ser utilizados como tratamento conservador da escoliose.

Pilates Kids & Teens tem o mesmo objetivo que o Método para adultos, mas os exercícios são apresentados de uma forma mais interativa para cativar a atenção e interesse das crianças. Por norma, e dependendo do grupo onde se insere a criança, os conteúdos são passados de forma lúdica para que as crianças possam sentir-se mais motivadas pelo Método. Com efeito, para organizar uma aula que seja funcional e que permita que os objetivos definidos sejam alcançados, é necessário conhecer bem o mundo das crianças e adolescentes. É fundamental conhecer o raciocínio lógico infantil, entender o pensamento das crianças, bem como elaborar as suas construções mentais e a sua visão sobre o mundo que as rodeia. Desta forma, o Pilates Kid & Teens apoia-se em Piaget, para perceber em que estádios do desenvolvimento cognitivo se encontra a criança.

Crespo, T et al 5 descrevem, de forma sucinta, os estádios para que seja mais fácil compreender o desenvolvimento cognitivo da criança. Este autor divide-o em quatro fases, denominando-as de estádios de desenvolvimento. Cada estádio corresponde a uma determinada faixa etária da criança, e cada faixa etária é descrita por um conjunto de características. Piaget denomina-os do seguinte modo: Sensoriomotor que caracteriza as crianças com 0-2 anos de idade; Pré-Operatório que corresponde às crianças dos 2-7 anos de idade; o estádio Operatório-Concreto que engloba as crianças com 7-11 anos de ida­de; e, por último, o estádio Operatório-Formal, a partir dos 11/12 até à idade adulta.

De forma sucinta, Pilates Kids & Teen descreve as três fases em que se insere o método e avalia os principais impactos e mais-valias no futuro, da seguinte forma:

Pré-operatório (4-7 anos) - é no Período Intuitivo (inserido dentro do pré-operatório) onde parece fazer mais sentido a in­trodução do método. É neste momento que as crianças podem iniciar a prática do método de Pilates, de modo a beneficiar dos seus efeitos por possuírem controlo dos músculos abdominais, uma vez que até aos 4 anos todo o apoio é feito com as mãos e rotação do tronco. Nesta fase têm capacidade de distinguir entre a realidade e a fantasia, e iniciam a “fase dos porquês”, fase caracterizada pelo egocentrismo e pensamento mágico. As aulas consistem essencialmente em jogos e muita criatividade por parte de quem leciona, e o objetivo é promover ainda mais os movimentos naturais. São aulas de curta duração e muito dinâmicas. Para aquisição de experimentação motora e cog­nitiva, este é o período mais importante. É essencial trabalhar o equilíbrio e propriocepção sem haver a preocupação com a “ativação do centro”. O trabalho durante a aula deve ser feito com limites, regras e normas, mas envolvendo e promovendo sempre a participação do aluno, utilizando as suas representa­ções da realidade.

Operações Concretas (7 – 12 anos) - Nesta fase a criança inicia o seu desenvolvimento de raciocínio lógico. Ela gosta de socializar e participar em grupos, compreende bem a aplicação de regras, e permite-se liderar e ser liderada, desde que em concordância com as regras. A criança adora desafios e já tem a capacidade de elaborar conceitos concretos, nomeadamente, os que envolvam sincronizações, rotinas e objetos. Tem a ca­pacidade de ter um pensamento racional, acedendo aos seus conhecimentos, classificando e organizando as informações adquiridas. Nesta fase os exercícios do Pilates já são aplicados de um modo mais rigoroso, com o objetivo de identificar en­curtamentos, fraquezas e desequilíbrios posturais, cabendo ao instrutor corrigir estas alterações/ disfunções de forma adequa­da e assertiva. Aqui vamos encontrar elementos extremamente competitivos, característica especifica desta faixa etária, o que pode tornar-se num instrumento a favor, ou não, do trabalho pretendido. É muito importante que de aula para aula, o desafio seja cada vez maior, pois só desta forma poderá manter-se o interesse das crianças pela modalidade. É através da apren­dizagem de observação, de um para o outro, que a criança se organiza e encontra soluções para os desafios que lhe são pro­postos, sendo extremamente importante saber lidar com a auto­nomia dessas crianças. Equipamentos mais sofisticados, como o Reformer ou Cadillac, podem ser introduzidos para ganho de força, pois não alteram o crescimento da musculatura, devido à fluidez do seu trabalho; deve-se, no entanto, ficar atento porque o objetivo não é promover a sua rigidez. O corpo da criança está disponível para a “moldagem”, mas deve ser bem trabalhado. A partir dos 9 anos pode trabalhar-se a força do centro, usando exercícios que promovem a mobilidade.

Operatório-formal (8-14 anos) - Nesta fase ocorre um au­mento do raciocínio lógico e as crianças aprendem a coordenar ideias abstratas. Esta fase é também caracterizada pelo auge do desenvolvimento da inteligência, sendo o erro um conceito que na fase de pré-adolescência, deve ser discutido e anali­sado. Na verdade, esta pode ser das fases mais desafiantes para qualquer instrutor, havendo ajustes necessários na lingua­gem usada. É também importante salientar que, de modo bem aprimorado, o adolescente consegue elaborar as suas próprias teorias e recorrer a explicações para justificar a realização ou não dos exercícios que lhe são propostos. Na pré-adolescên­cia ocorre a explosão de hormonas, que tem início aproxima­damente aos 12 anos e vai até perto dos 20 anos. Este grupo etário requer algum “jogo de cintura” por parte do instrutor. É necessário, para além de ter noções anatomofisiológicas, algum tipo de preparação para interagir e é de extrema importância a empatia e a conquista da confiança, tendo os instrutores de “assumirem o papel” de adolescentes. É nesta fase que os ins­trutores se deparam com as escolioses idiopáticas, sendo que muitas vezes a única forma de convencer o aluno a fazer os exercícios é mostrar-lhe as consequências a que está sujeito se não o fizer - isto pois nesta fase já possuem a capacidade de compreensão abstrata. Os erros são muito frequentes e repe­titivos nesta fase, pelo que não devem ser ignorados, mas sim trabalhados.

Pilates Kids & Teens parte do pressuposto que é importante educar as crianças, desde tenra idade, a moverem-se e desen­volverem bons hábitos posturais. Existem boas hipóteses que esses hábitos continuem até à idade adulta, protegendo-as de disfunções biomecânicas do sistema músculoesquelético, bem como ensinando-as a lidar com a dor.

No Pilates Kids & Teens, as crianças aprendem a ter bons há­bitos posturais e são incentivadas a pensar sobre as suas pró­prias posições corporais em diferentes atividades. Com o input adequado e constante, estarão com certeza no bom caminho, para obter mais resultados na precisão do movimento, atingindo assim o output esperado. Para terminar, podemos afirmar que o método permite ao sistema neuromuscular, mais consciência da posição do corpo: trabalha a propriocepção, aumenta o input sensorial e melhora a flexibilidade, coordenação, resistência e força. Mas, para além de melhorar a parte física, também me­lhora a capacidade mental e estimula a sensação de bem-estar.

Bem-vindos ao mundo do Pilates, boas posturas, melhor saúde física e mental.


Este artigo fez parte da 5ª edição da Bwizer Magazine – pode vê-la na íntegra aqui. 

 

CV: APPI Trainer - A Raquel Brandão é licenciada em Fisioterapia pela ESSEM e conta com diversas formações no seu currículo. Neste destacam-se as formações oficiais em Pilates Clínico APPI, sendo Instrutora Oficial deste Método. É Formada em Pilates Kids e Teens e Pilates for Spinal Surgery.

Fonte: Consulte a 5ª edição da Bwizer Magazine

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