Fernando Ribeiro e Alberto Alves são dois especialistas em Reabilitação Cardíaca. Profissionais Doutorados nas áreas da Actividade Física e do Desporto, o seu extenso currículo traduz-se fielmente no conhecimento que detêm sobre a Reabilitação Cardíaca, o que faz com que seja um prazer e uma dose de aprendizagem muito grande conversar com eles sobre esta área. Aqui ficam as respostas às perguntas que tivemos o prazer de lhes colocar:
O que falta para que estes conhecimentos e os benefícios destes programas cheguem a um n.º maior de pessoas?
Esta é uma pergunta difícil. Existem vários factores que condicionam a participação nestes programas, a começar pela referenciação e pelo reduzido número de programas activos nos nossos hospitais, centros de saúde e centros comunitários bem como pela baixa educação para a saúde que em regra geral todos nós portugueses apresentamos e que condicionam a adesão nestes programas e a adopção de comportamentos mais saudáveis.
Pensando um pouco nos beneficiários de programas de “reabilitação cardíaca”, gostaríamos de lhes perguntar: 1) quem deve frequentar estes programas e 2) quais os maiores benefícios?
A população alvo para os programas de RC são os sujeitos com doença das artérias coronárias (angina de peito estável e enfarte agudo do miocárdio), insuficiência cardíaca, cirurgia valvular, cirurgia de revascularização coronária e transplante cardíaco. Como é obvio esta lista não é inclusiva e existem contra-indicações pontuais a considerar e que podem limitar a participação dos sujeitos que se enquadram na lista acima descrita. Entre os benefícios comprovadamente alcançáveis em programas de reabilitação cardíaca poderemos enumerar: redução do risco de mortalidade e/ou a recorrência de eventos cardíacos; melhoria da autonomia e capacidade funcional; redução da severidade e/ou eliminação de factores de risco modificáveis; aumento a tolerância ao esforço; melhoria da qualidade de vida e o bem-estar físico e psicossocial.
Há uma grande diferença entre reabilitação cardíaca e a prática de exercício não-supervisionado que a maioria das pessoas faz?
Sim, claro que sim. A actividade física que a maioria das pessoas faz distingue-se do exercício efectuado nas sessões de reabilitação cardíaca porque este é um sub-tipo de actividade física que se caracteriza por ser planeada, estruturada, regular e com objectivo de melhorar ou manter um ou mais componentes da aptidão física.
Para além disso a reabilitação cardíaca é mais do que apenas as sessões de exercício, pois inclui ainda outras componentes fundamentais das quais se destacam o aconselhamento nutricional e psicossocial, e controlo dos factores de risco modificávies.
De uma forma sintética, em que consistirá o curso que apresentarão em conjunto com a Bwizer? O que podem esperar os participantes?
Podem esperar um curso que os dotará de competências para integrar um equipa multidisciplinar de reabilitação cardíaca e os habilitará a aconselhar actividade física e a prescrever e monitorizar sessões de exercício físico em pacientes com patologia cardiovascular. Podem esperar um curso com um corpo docente com trabalho publicado na área, sessões teóricas e teórico-práticas que pretendem passar um conjunto de conhecimentos que devem ser transversais a quem trabalha nesta área, e sessões práticas que permitirão simular situações reais em contexto de sala de aula.
É a Reabilitação Cardíaca área multidisciplinar? Quem são os profissionais que geralmente trabalham nesta área?
Indubitavelmente. A reabilitação cardíaca compreende vários componentes fundamentais que só podem ser asseguradas por profissionais com competências em diferentes áreas de intervenção. Os programas de reabilitação são tipicamente constituídos por um director clínico que deve ser um cardiologista, um especialista em exercício físico (que dependendo da fase de intervenção é um fisioterapeuta ou um professor de educação física/licenciado em ciências do desporto), um nutricionista e um psicólogo.
O Prof. Fernando Ribeiro é fisioterapeuta mas tem dedicado os últimos anos à investigação nesta área (a que junta a actividade lectiva). O que é que o atraiu nesta área e o que é que considera que pode ser o papel de um fisioterapeuta numa equipa de reabilitação cardíaca?
O fisioterapeuta, como profissional com competências especificas no domínio do movimento funcional, tem um papel central nas componentes de aconselhamento da actividade física e do treino de exercício físico, especialmente nas fases I e II dos programas de reabilitação cardíaca. Deve ter a seu cargo o aconselhamento da actividade física diária para obter benefícios cardiovasculares e da prescrição e monitorização do exercício nas sessões de exercício. Como é obvio deve estar em contacto permanente com o director clínico do programa que regra geral é um cardiologista e com os restantes elementos da equipa para que os objectivos definidos para os pacientes sejam alcançados.
O que poderiam aconselhar a quem pretenda ter uma actividade profissional nesta área?
Sendo um área especifica de conhecimento que requer competências especializadas o conselho que deixo é manter-se actualizado. E caso a formação de base não tenha sido suficiente nesta área, procurar formação pós-graduada que permite suprir essa lacuna.