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Publicado a 13/10/2018

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Jesús Requena García

Técnicas osteopáticas cranianas: Um estudo biomecânico | Por Jesús Requena García (Bwizer Magazine)

Jesús Requena García

Este artigo fez parte da 3ª edição da Bwizer Magazine – pode vê-la na íntegra aqui.

 

Desde 1920 que as técnicas cranianas são amplamente utilizadas pelos Osteopatas, sendo que muitas destas são jus¬tificadas com parâmetros mecânicos que melhoram a fisiologia dos tecidos afetados.

Há, contudo pouca literatura sobre o efeito mecânico das técnicas cranianas, sendo a maioria dessa evidência baseada na experiência clínica, sensações e resultados dos sintomas do paciente.  O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito mecânico das técnicas de osteopatia craniana; de destacar que graças à instrumentação biomecânica, há uma maior compreensão do que ocorre ao nível estrutural quando realizamos uma manobra craniana, assim como sobre a forma como ocorrem as microdeformações no tecido ósseo.

A prática da osteopatia craniana é justificada por vários estudos, ainda que persista a necessidade de mais investigação.

Desde o seu nascimento, as manobras cranianas basearam-se somente em sensações e em algumas referências bibliográficas, contudo, hoje em dia e, graças à tecnologia utilizada neste estudo, podemos recolher e analisar informações objetivas e conferir-lhes validade científica e educacional.


A Osteopatia Craniana

A osteopatia craniana foi desenvolvida no principio dos anos 1930 por W. G. Sutherland DO. Com efeito, as formas “particulares” das superfícies de junção entre a asa maior do esfenóide e a porção escamosa do temporal chamaram a sua atenção. Essa união parecia angular, como as guelras de um peixe. Pareciam um reflexo da mobilidade articulada.

Assim, embora todos os livros de anatomia indicassem que as suturas cranianas estavam ossificadas, formando um grupo imóvel e estático, a ideia da possibilidade de existência de movimento ósseo no crânio não o deixou sossegar.

Após anos de trabalho, ele investigou as diferentes superfícies articulares dos ossos do crânio e concluiu que essas superfícies formam uma construção que permite movimento.  Embora Willian Garnerd Sutherland seja quem desenvolveu a osteopatia craniana, importa referir que, em 1744, Emanuel Swedenborg já falava sobre o movimento respiratório do cérebro.

A osteopatia craniana continua a ganhar reconhecimento científico, tanto com resultados a favor, como com resultados menos positivos, como o indicado pelos estudos de Guillaud, que conclui que não há provas metodologicamente sólidas sobre este tipo de diagnóstico e tratamento; mas, atualmente, continua a investigar-se mais e melhor como indica o Journal of American Osteopathic Association.


Mobilidade do Crânio

Moss, em 1961, postulou uma mobilidade entre os ossos do crânio e, ao mesmo tempo, demonstrou que as bordas e a interdigitação devem evitar a separação das suturas.  O estudo realizado por Pritchard et al, em 1956, sobre a morfologia e o desenvolvimento de estruturas cranianas em mamíferos demonstrou a premissa de Sutherland, ou seja, que as suturas cranianas têm mobilidade mínima, mas de grande significado clínico, mesmo em idades avançadas.

No ano de 1979, Kragl et al. demonstraram a mobilidade de crânios macerados com a ajuda de tiros holográficos. Os resultados destes trabalhos corroboraram a existência de uma mobilidade interde-pendente de cada uma das partes do crânio, sendo que “provavelmente depende da morfologia das superfícies articulares inter-suturais”. Neste estudo observou-se que, com cargas superiores a 5,0 N, as forças são transmitidas de um osso para o outro, produzindo o deslocamento de um osso em relação ao outro - neste caso foi estudado o comportamento entre o osso zigomático e o osso maxilar.

Em 1993, Heysey e Adams publicaram os resultados das suas pesquisas sobre a mobilidade dos ossos do crânio. Com um dispositivo especialmente desenvolvido, foi possível medir movimentos laterais e de rotação mínimos nos ossos parietais, na sutura sagital de gatos adultos anestesiados. Esses dois movimentos resultaram numa mobilidade sutural de 200 mícrons. Neste mesmo estudo, também aumentaram a pressão intracraniana, injectando líquido nos ventrículos laterais, e analisaram a reação dos ossos parietais, tendo concluido que mesmo uma injeção de apenas 0,1 a 0,2 ml de líquido nos ventrículos laterais foi suficiente para desencadear o movimento da sutura.

Moskalenko confirmou a existência de movimentos espontâneos no parietal, temporal e occipital com a ajuda da ressonância magnética. Imagens radiográficas seriadas e ressonâncias magnéticas mostraram alterações intracranianas es¬pontâneas de 0,38 mm de tamanho, com oscilações entre o diâmetro sagital e o frontal.

Em 1999, Jean-Claude Herniou obteve estimativas mínimas da mobilidade de suturas cranianas sob condições estáticas e sob baixa pressão (módulo equivalente a 500 grs). Esses dados foram:

  • Sutura armónica, 41,5 mícrons
  • Sutura biselada:
  • 6,5 mícrons (pressão óssea sobre o bisel interno)
  • 25 mícrons (pressão no bisel externo)
  • Sutura dentada, 25,5 mícrons

Ora, este autor também afirma que a influência mecânica do líquido cefalorraquidiano ao nível dos ossos e suturas cranianas é desprezível.

L. Rommeveaux, levou a cabo um estudo na faculdade de medicina de Bobigny, com medidas de pressões utilizando sensores mecânicos de medição de pressão colocados, tanto na glabela, como nos ossos do nariz; os resultados mostraram oscilações de 0,08 a 0,2 Hz, isto é, de 5 a 10 ciclos por minuto.

Desta forma, não só o movimento ósseo foi demonstrado através de pressões, mas também alterações nas membranas intracranianas.

Kostopoulos e Keramidas, num estudo com recurso a um cadáver embalsamado, examinaram as mudanças que ocorrem na foice do cérebro através de técnicas de osteopatia craniana; com efeito, este estudo mostrou o alongamento relativo nas diferentes técnicas, tendo sido obtidos os seguintes valores:

  • Para o levantamento do frontal: 1,44 mm
  • Para a elevação do parietal: 1,08mm
  • Para a compressão do esfenobasilar: -0.33mm
  • Para a descompressão do esfenobasilar: 0,28mm
  • Para a descoaptação do ouvido: resultados inconclusivos

O objetivo principal deste estudo foi determinar se há movimento ou deformações no crânio durante a aplicação de técnicas osteopáticas cranianas.

Como objetivos secundários, foram avaliados os parâmetros de movimento da referida deformidade e a confiabilidade e reprodutibilidade das técnicas aplicadas.

 

Este artigo fez parte da 3ª edição da Bwizer Magazine – pode vê-la na íntegra aqui.

CV: Fisioterapeuta e Osteopata, é também Master em Biomecânica aplicada às Disfunções Corporais e Doutorando pela UFV. Tem formação em Posturologia e nos últimos 5 anos dedicou-se à pesquisa na área craniana.

Fonte: Consulte a 3ª edição da Bwizer Magazine

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