O nosso website utiliza cookies por forma a melhorar o desempenho do mesmo e a sua experiência como utilizador. Pode consultar a nossa política de cookies AQUI

Publicado a 26/09/2017

Voltar
Rui Lemos

Exercícios em Máquinas Vs. Exercícios Funcionais | Por Rui Lemos

Rui Lemos

Por vezes quando vejo certos exercícios interrogo-me, tentando perceber qual o propósito de certas abordagens e, da mesma forma, por vezes manipulo certos exercícios e há pessoas curiosas como eu que me questionam, e bem.

Então a pergunta que me surge frequentemente é a do porquê do uso de material acessório como elásticos ou contrapeso em máquinas guiadas como as representadas.

Então, em primeiro quero esclarecer que não uso estes materiais para ficar bonito nem para inventar como já me disseram, e muito menos para dizer que o meu treino é funcional. No entanto, posso intitular estes dois exercícios, a meu ver, de funcionais, porque aqui sim estou mais perto da minha verdade fisiológica. Desta forma, consigo respeitar a individualidade da minha fisiologia muscular e não estou a executar os padrões de movimentos que muitas vezes intitulam de serem funcionais apenas porque replicam aquilo que eu faço no meu dia-a-dia.

Desta forma, quando na minha rotina de treino ou na minha vida profissional, escolho um ou outro exercício, uma ou outra máquina, uma ou outra posição corporal, um elástico ou um contrapeso para manipular uma máquina e um exercício, tenho em conta dois aspetos: i) ponto de inserção óssea do músculo; e ii) capacidade contrátil do músculo durante a sua amplitude de movimento.

É, por isso, extremamente relevante o conhecimento das inserções do músculo agonista do movimento, porque o músculo para mover uma articulação tem que ter alguma distância perpendicular em relação ao seu eixo (por isso é que existe a rótula, por exemplo, como podemos ver neste GIF).

Definindo esta distância como seu braço momento (MA), é relevante perceber qual o seu comportamento ao longo do movimento em questão, isto é, se ele à medida que encurta ganha ou perde braço momento em relação à articulação. Se ganhar, quanto mais encurta mais força tem, e se perde, quanto mais encurta menos força tem. Podemos ver esse comportamento na imagem 2, onde o braço momento do músculo na imagem mais à esquerda é muito pequeno, posteriormente à medida que encurta (imagem b. e c.) ganha ainda mais capacidade de encurtar porque atinge o seu maior braço momento. No entanto, no final do movimento volta a perder braço de momento e por isso volta a perder capacidade de mover a articulação - consultar a imagem 2 na galeria acima.

Ao analisar a imagem 2, é importante ter em consideração que é pelo conhecimento do braço de momento que as maçanetas das portas estão nas suas extremidades e não junto das dobradiças, pois quanto maior o braço de momento maior é a capacidade de se mover.

Contudo isto não basta. Por isso vamos agora por último ao ponto ii) que retrata a forma como varia a capacidade de exercer tensão do músculo ao longo da sua amplitude de movimento. Quando o músculo está alongado ou encurtado (suas extremidades), tem menos capacidade de exercer tensão, devido ao diminuído número de pontes cruzadas que existem entre a actina e a miosina. No entanto, possui um comprimento ótimo para exercer tensão que, por norma, é a meio da sua amplitude de movimento porque é quando existe maior número de pontes cruzadas - consultar a imagem 3 na galeria acima.

Desta forma, e partindo do principio que força é a capacidade do musculo exercer tensão, devemos também fazer variar a carga externa de forma relativa, para que esta acompanhe a nossa fisiologia muscular. Assim, fica explicado o porquê de se manipularem alguns exercícios e/ou máquinas. O motivo é o torque, que o músculo é capaz de exercer para mover uma articulação, variar, pois é o resultado da junção da sua capacidade de exercer tensão e do seu braço momento ao longo da amplitude de movimento. Por isso, cabe-nos a nós profissionais do exercício manipular os exercícios para que estes se adaptem ao corpo humano. Não sou funcional por usar um elástico, nem tão pouco invento nada. Apenas quero estudar, descobrir e transmitir o que já está inventado.

Há lógicas simples que estupidamente ignoradas definem quão profissional podes ser.

 

  »» Quer continuar a discutir outro tema com o Rui Lemos? Veja AQUI!

 

Fontes:

  • Kenney, W., Wilmore, J., Costill, D. (2012) Physiology of Sport and Exercise. 5th Edition. Human Kinetics.
  • Knudson, D. (2007). Fundamentals of Biomechanics. 2nd Edition. Springer.
  • Levangie, P., Norkin, C. (2005). Joint Structure & Function. 4th Edition. F.A. Davis Company.
  • Moscão, J. (2017) EXS Performance, Manual Formativo. Exercise School.
  • Neumann, D. (2003). Kinesiology of the Musculoskeletal System. 1st Edition. Mosby.
  • Vilaça, J. (2013) Capacidade Motora Força – Conceptualização e forma de manifestação. SBD UTAD.

 

CV: Licenciado e Mestre em Ciências do Desporto

Partilhe em...