Este artigo fez parte do Número 8 da Bwizer Magazine – pode vê-la na íntegra aqui.
Fale-nos um pouco de si.
Chamo-me Nádia Palongo, tenho 32 anos e vivo desde sempre em Setúbal. Cresci num bairro, onde a rua estimulou o meu gosto pela liberdade e competição. Aos 12 anos comecei a jogar basquetebol, tendo mais tarde sido convocada para a Seleção Nacional. Desde os escalões sub-16 aos sub-20 estive presente em 5 Campeonatos da Europa. Paralelamente, integrei os trabalhos do Centro de Alto Rendimento do Jamor. Esta experiência incutiu-me uma enorme capacidade de persistência, resiliência e foco, características que são hoje importantes a nível profissional.
Licenciei-me em 2011 no IPS - Escola Superior de Saúde de Setúbal, tendo realizado posteriormente uma Pós-Graduação em Fisioterapia no Desporto. Exerci de imediato a profissão na minha área de eleição – a fisioterapia músculo-esquelética.
Sou mãe da Maria Leonor de 4 anos, que despertou em mim um amor inimaginável.
Uma curiosidade sobre si que nada tenha que ver com a sua atividade do dia a dia?
Segundo Jim Collins, todos os objetivos que queremos alcançar na vida devem ser anotados. Anualmente estabeleço objetivos, que escrevo e revejo com frequência. Diariamente, antes de adormecer, faço um flasback do meu dia e “retiro” o momento que foi mais importante. Pode parecer exagerado, mas na porta do meu frigorífico tenho a idade com que idealizo reformar-me, ou pelo menos só gerir o meu negócio (55 anos).
Como concilia a vida pessoal com a profissional?
Tenho um grande problema, não sei dizer Não. Tendo o meu próprio negócio, muitas vezes tenho agendado ir ao ginásio ou outra atividade de lazer. Mas se existir um cliente a contactar-me para uma nova marcação, sou incapaz de rejeitá-lo! Estou a aprender a gerir e a conciliar a minha vida pessoal com a profissional, mas confesso que não é fácil, visto que tenho um compromisso com o meu gabinete. “Há uma diferença entre interesse e compromisso. Quando estiver interessado em fazer algo, só o fará quando lhe for conveniente. Quando está comprometido com algo, não aceita desculpas, só resultados” - Ken Blanchard.
Sempre sonhou ser Fisioterapeuta? Como surgiu esta profissão na sua vida?
Quando era criança queria ser astronauta. Contudo, isso não aconteceu. Com a minha ligação ao basquetebol, as lesões desportivas começaram a fazer parte de mim. Aos 17 anos contraí uma lesão gravíssima no tornozelo direito, que culminou em cirurgia no ano seguinte. Devido principalmente a essa lesão, realizei fisioterapia durante um longo período e percebi que o meu caminho seria exercer esta profissão, pois poderia estar ligada em simultâneo ao desporto e ajudar os atletas na sua recuperação.
Quando e porquê decidiu apostar na Osteopatia?
Considero-me uma sortuda no decorrer de todo o meu percurso profissional. Em 2013, a FisioSado, clínica onde trabalhava e que me acolheu desde o término da licenciatura, encerrou. Nesse ano, estava a terminar a Pós-graduação em Fisioterapia no Desporto e iniciei um estágio na FisioGaspar. Simultaneamente, fazia voluntariado na Cruz Vermelha Portuguesa, no âmbito dos jovens em risco, em conjunto com uma assistente social que, curiosamente, estava ligada a um ginásio, o ProAventuras. Fiz-lhe uma proposta para explorar um dos gabinetes, utilizando as instalações do ginásio mediante uma percentagem, e na necessidade de obter mais ferramentas de avaliação e de diagnóstico diferencial, bem como novas e mais eficazes técnicas de tratamento, surgiu a Osteopatia pela Escola de Madrid.
No seu percurso profissional, quais foram as experiências que mais a marcaram?
Existem duas experiências marcantes. Uma experiência que me marcou negativamente aconteceu numa clínica de fisioterapia, em Lisboa. A comunicação da responsável com os seus colaboradores, na minha ótica, não era a mais correta, não me revia naquele registo. Começou a ser um suplício sempre que ia para a clínica, destabilizando-me emocionalmente. A personalização dos tratamentos (um cliente por hora), era uma realidade que desconhecia em contexto clínico. Assim, a completar os meus 28 anos, telefonei para a clínica a informar que não iria continuar a colaborar. Comecei a canalizar as minhas energias para o meu gabinete, na altura com o nome FisioPalongo. Desta experiência foi muito gratificante perceber como se trabalha 1x1, bem como o nicho de mercado e como se gere uma clínica.
Outra experiência marcante, foi ter sido fisioterapeuta no Festival Sudoeste TMN (SW TMN). Quando me convidaram, questionei o papel de um fisioterapeuta num festival, mas logo percebi que fazia todo o sentido. Numa tarde normal de festival, surgiu um rapaz de braço ao peito angustiado, tinha luxado o ombro e não estava a conseguir reduzir como era normal, para ele. Reduzi a luxação. Esse mesmo rapaz de madrugada, enquanto descansava, entra pela tenda a chamar-me, pelo mesmo motivo e fi-lo novamente, abraçou-me agradecendo. O SW TMN foi uma experiência incrível.
Sabemos que é fisioterapeuta da Federação Portuguesa de Basquetebol. Como surgiu a ligação ao desporto?
Como tinha sido jogadora de alta competição da modalidade de basquetebol, ao terminar a licenciatura, enviei o CV para o secretário da seleção nacional, Nuno Manaia. No ano seguinte, depois de muita persistência, recebo um e-mail a perguntar se estaria disponível para um estágio da seleção nacional de sub-16 feminino. Encontrava-me a trabalhar na clínica FisioSado, porém sabia que seria a minha grande oportunidade para entrar num meio que tanto ambicionava. Expliquei a situação aos fisioterapeutas da clínica (fisioterapeuta José Reis, Paulo Inácio e Eveline) e eles foram inexcedíveis no apoio. Entretanto, com o crescimento do Studio Saúde de Setúbal, tornou-se muito difícil conciliar ambas as atividades, pelo que tive de optar.
E o Voluntariado – como entrou na sua vida?
O voluntariado surgiu em novembro de 2010, estava eu no 4º ano da licenciatura. O último ano é muito exigente, ocupamos grande parte do ano letivo a preparar o trabalho final de curso. Nessa altura encontrava-me desmotivada, a precisar de me sentir útil, de me sentir viva! Foi então que uma amiga do secundário me perguntou se queria inscrever-me na Cruz Vermelha Portuguesa. Passado 7 meses de formação, iniciei o voluntariado como Tripulante de Ambulância e Transporte (TAT) mediante a minha disponibilidade, 3 a 4 vezes por mês das 20h-8h. Fora os serviços, ao fim de semana em assistência a provas desportivas. Confesso que era exigente e que muitas vezes saía do voluntariado diretamente para a clínica, mas dava-me um enorme prazer!
Decidiu apostar mais esforços em alguma área em particular? E se sim, porquê?
O gabinete, para além das sessões individuais de reabilitação e Terapia Manual, apresenta-se com aulas de pequenos grupos de Pilates Clínico e, mais recentemente, de Low Pressure Fitness Hipopressivos.
Com efeito, o Pilates Clínico teve um excelente crescimento. Iniciei em abril de 2018 com 4 turmas, não mais que 12 clientes, mas logo me apercebi que precisaria de colaboração e convidei a fisioterapeuta Marina Silva para ministrar as aulas de grupo. Neste momento, apresentamo-nos, orgulhosamente, com 18 turmas semanais e 60 clientes.
Para além da aposta a nível técnico, comecei por ler alguns livros sobre outras temáticas e acabei por aplicar alguns KPI´s (Key Performance Indicators - Indicadores Chave de Desempenho), como por exemplo: número de clientes; valor cliente/ hora; taxa de ocupação; valor cliente/ dia… Algo que foi muito importante para conhecer, tanto o crescimento do gabinete, como o meu público. Desta forma, consigo gerir a parte financeira que é tão ou mais relevante que a componente técnica.
Quais os desafios e medos que enfrentou? Foi tudo fácil?
Antes de me aventurar no Studio Saúde de Setúbal, colaborei com outros colegas - pagava uma renda de utilização do espaço e geria a minha agenda. Sempre tive algum receio de estar a 100% no meu próprio negócio, por receio de não gerar receita suficiente para pagar as despesas.
Em 2017, enquanto acampava com a minha filha, decidi ouvir a minha intuição e despedi-me de tudo. Fiquei apenas a trabalhar no gabinete de um colega. Mais tarde, comecei a pesquisar lojas e fiz as contas necessárias para perceber até onde poderia investir no negócio face às receitas existentes. Amealhei algum dinheiro, encontrei uma loja de 40m2 com uma renda bastante aliciante e fiz as obras que considerava necessárias naquele momento do negócio.
Não foi tudo fácil, aprendi a lidar com os inconvenientes das obras (nunca terminam no tempo que queremos) e com o orçamento (é sempre um pouco acima daquilo que nos pedem inicialmente). Mais tarde, quando comecei a querer rentabilizar o espaço, quis oferecer outro tipo de serviços, nomeadamente Yoga. Porém não cheguei a ter o número de alunos suficientes para obter lucro. Refleti sobre o assunto e conclui que a oferta de serviços tem de ser muito adequada ao perfil do cliente, desde a disponibilidade horária até à complementaridade com outros serviços. Desta forma, tive de cancelar a mesma.
Hoje sente-se recompensada? Faria algo de forma diferente?
Hoje sinto-me abençoada e grata por todo o meu percurso, tudo fluiu da forma que tinha de ser. Se fizesse algo de forma diferente, seria ter iniciado mais cedo este meu projeto, procrastinei com receio de dar o “passo” sozinha. Hoje acredito que tudo tem o seu tempo, há que ter paciência e confiar no processo.
Na sua opinião qual a importância da prática privada na Fisioterapia, em Portugal? A concorrência é positiva?
Existe uma necessidade óbvia do Sistema Nacional de Saúde prestar cuidados generalizados à população, contudo essa resposta não é suficiente face às exigências atuais. A prática privada na Fisioterapia nasce da exigência de um cuidado personalizado e específico a um cliente que está disposto a cuidar de si, tanto na prevenção, como na reabilitação. A concorrência é sempre positiva em todos os setores económicos, e no caso da fisioterapia, julgo que traz inovação na prestação de serviço ao longo de toda a cadeia de valor, não se ficando unicamente no lado clínico.
Como acha que a Fisioterapia pode evoluir/ crescer?
A Fisioterapia vai continuar a evoluir no sentido de prestar um serviço diferenciado, personalizado e holístico. Isto pressupõe que as entidades académicas e empresariais se adaptem à nova realidade. Na minha perspetiva, existe um gap entre o ensino superior e o mercado de trabalho.
Paralelamente, as clínicas de fisioterapia convencionadas pelo Sistema Nacional de Saúde, ADSE e Seguradoras também terão de acompanhar a mudança e as alterações do modelo de financiamento da Saúde.
Acresce a tudo isto, o facto de estarmos a vivenciar uma nova revolução que disponibiliza mais informação a todos, autonomiza parte do trabalho manual e intelectual e que irá certamente influenciar a fisioterapia no futuro.
Como procura elevar-se a si e à sua profissão?
Por vezes, quando existe algum cliente com o qual não estou a ter os resultados pretendidos, reencaminho para outro fisioterapeuta/ profissional com mais experiência. Deveria existir na nossa profissão uma complementaridade e nem sempre uma competição. Aposto, igualmente, na melhoria contínua através da formação e na análise diária do Studio. Julgo também ser importante dar a conhecer os resultados do meu trabalho nas redes sociais.
Quais os seus projetos para o futuro?
Num futuro próximo, será a expansão do Studio Saúde de Setúbal, com valências que vão ao encontro de um único pressuposto: foco no cliente/ utente, nomeadamente na promoção de um estilo de vida saudável, através de uma abordagem holística em cooperação com outros profissionais de saúde.
Já realizou algumas formações com a Bwizer. De que forma é que estas impactaram o seu dia a dia?
Todas as formações realizadas na Bwizer acrescentaram-me valor enquanto fisioterapeuta, na obtenção de novas ferramentas de trabalho. A Bwizer é a entidade de formação de excelência na qual confio o meu processo de kaizen.
Uma dica ou frase de inspiração para aqueles que gostariam de seguir os seus passos?
Para quem pretende iniciar um projeto individual ou já o tem, deixo o seguinte conselho: não vendam apenas serviços, mas sim a transformação desse serviço na vida dos vossos clientes.
“O maior perigo para a maioria de nós, não é ter metas demasiado altas e falhá-las, mas ter metas demasiado baixas e alcançá-las.” Miguel Ângelo.
Este artigo fez parte do Número 8 da Bwizer Magazine – pode vê-la na íntegra aqui.
CV: Fisioterapeuta