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Publicado a 06/04/2018

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Manuel Paquete

Qual é a evidência da TENS?

Manuel Paquete

É recorrente ouvir, com algum orgulho, que a eletroterapia não tem qualquer efeito e que as mãos são melhores do que qualquer aparelho. Outros profissionais, apesar de não acreditarem na sua efetividade, acabam por comprar um ou outro aparelho porque acham que as luzinhas a piscar tem algum efeito no seu utente/cliente.

Uma das correntes mais utilizadas em fisioterapia e que está fortemente associada ao alívio da dor é a TENS. Mas existe evidência para a utilização desta corrente? E se existe, estamos a aplicá-la bem?

Que eu tenha conhecimento, o último artigo que aborda a evidência desta corrente data de 2014 e tenta fazer um estado da arte.

Antes de abordar o artigo, acho pertinente deixar duas ou três pinceladas genéricas sobre a TENS. Trata-se de uma corrente de baixa frequência, apolar (não tem polo positivo nem negativo), com reduzidos efeitos colaterais (2-3% mencionam irritação cutânea por causa dos elétrodos) e o mecanismo de ação inicial é baseado na Teoria do Gate Control proposta por Melzack e Wall.

Quando fazemos uma retrospetiva do que já foi escrito sobre a TENS, concluímos que a literatura, para variar, não é conclusiva mas parece haver uma tendência para afirmar que a sua eficácia é muito reduzida. Kathleen Sluka e colaboradores, em 2013, apontam algumas razões para o facto das investigações até então efetuadas apresentarem resultados pouco favoráveis à utilização do TENS: 1) intensidades escolhidas, interações negativas com a utilização de analgésicos durante longos períodos, tolerância à sua utilização e a população selecionada 2) escalas pouco adequadas para medir os resultados 3) grupos de comparação pouco apropriados.

Vamos tentar esclarecer apenas os que considero mais relevantes para a prática clínica:

1- DOSAGEM

1.1- Intensidade da estimulação: será um dos principais fatores a ter em conta e mais desprezado nas investigações efetuadas. Ainda me lembro no meu início profissional (séc.XVIII) de ligar o aparelho de TENS, aumentar a intensidade até a pessoa sentir e depois manter essa mesma intensidade até ao fim do tratamento (mesmo quando a pessoa dizia que não estava a sentir nada ao fim de 5m. A minha resposta era: não se preocupe que a corrente está a passar. Acho que associava a TENS à corrente galvânica e tinha medo de queimar as pessoas. Se estivesse mais atentos às aulas de eletroterapia, saberia que a TENS não queima). Então como deverá ser a intensidade? A resposta é simples: o utente deverá ter uma sensação forte mas confortável. Sempre que haja diminuição dessa sensação, a intensidade deverá ser aumentada durante essa mesma sessão. A literatura diz que só assim se produz uma resposta analgésica. Isto aplica-se quer na TENS de alta frequência (sensação de “formigueiro” forte) quer na de baixa frequência (contração muscular visível forte). Importante também é ensinar o utente a aumentar a intensidade do aparelho, para o profissional não estar constantemente a parar outras coisas que esteja a efetuar. O facto de passar essa tarefa para o seu cliente, ajuda também a que este se comprometa mais com o tratamento. Ele sentir-se-á ainda mais uma parte ativa da reabilitação. De notar que nem todos os utentes poderão tolerar a sensação forte da TENS e aí há que equacionar outras alternativas.

1.2- Uso repetido da TENS: algumas investigações mostram um efeito cumulativo do uso da TENS. Por exemplo, a aplicação da TENS 2x/semana parece reduzir a dor crónica lombar. Os autores não dão respostas conclusivas para este efeito cumulativo perdurar no tempo. Acreditam que pode dever-se a uma diminuição da excitabilidade neuronal (normalmente aumentada na dor crónica) e também a uma ativação das vias descendentes inibitórios da dor (normalmente diminuídas na dor crónica). A mim, estes efeitos parecem-me demasiado ambiciosos e quem trabalha com dor crónica corrobora desta minha opinião certamente mas, existe alguma literatura que parece comprovar isto.

1.3- Frequência utilizada: diferentes frequências são percebidas de diferentes formas pelo utente. Normalmente, a de alta frequência parece ser mais confortável e por isso, deverá ser a escolha inicial (a primeira a ser tentada). Ainda assim, e como o uso repetido poderá levar a uma acomodação, aconselha-se, sempre que possível, a usar a TENS modulada (alternância automática ente altas e baixas frequências) que retardará essa acomodação. No entanto, se o cliente estiver a tomar analgésicos, a TENS de alta frequência parece ser a mais adequada.

1.4- Tolerância da corrente: a TENS não é considerada curativa per si e por isso os seus efeitos não se mantêm por meses ou anos após o fim da estimulação. Existem alguns estudos em que a amostra usava TENS continuamente por um período igual ou superior a 6 meses e os resultados indicaram uma diminuição da dor e um aumento da atividade diária, assim como uma diminuição da utilização de analgésicos. Não confundir estas investigações com outras em que se faz follow-up ou seja, passados por exemplo 6 meses após o fim da estimulação, se averigua se os níveis de dor se mantêm baixos. Aqui normalmente os resultados não são favoráveis à utilização da TENS.

 

Exploraremos ainda a interação com agentes farmacológicos e as patologias em que se pode usar a TENS, assim como um resumo dos pontos mais importantes aqui discutidos. Para ter acesso a esta informação e ler o resto do artigo, clique AQUI!

CV: Fisioterapeuta e Docente Universitário no IPiaget de VNGaia

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